segunda-feira, junho 04, 2007

O Retorno do Avô III

( O Avô levanta-se e com a bengala em punho começa a bater na mesinha da sala de estar, quebrando o vidro desta e a jarra que ali estivera. O neto assustado, foge assustado e grita a bom gritar por socorro. Pela porta lateral, entra Josefina, mulata roliça, com um tabuleiro, onde se podem ver um copo com água e os frascos com medicamentos. Chegando-se ao pé do velho que continua a partir a sala, vociferando e insultado tudo e todos diz carinhosamente)
- Paizinho então o que é isso? Tenha calma tudo vai acabar em bem. Já temos as passagens para Luanda. Tome os medicamentos para os nervos. Vá lá. Faça a vontade à sua Josefina. Tá bem?
- Vai chamar pai a outro sua cabra preta. Arreda zebra da tuge! Pira-te daqui antes que te mate.(Ao longe, ouve-se uma voz ténue, que parece vir de um quarto interior, chamando por Josefina)
- Josefina! Ó preta dum raio! Que tem o patrão?
- O mesmo do costume minha Senhora. O mesmo do costume.
( Entretanto o velho cambaleia e estatela-se no chão. Josefina corre para ele e tenta socorrê-lo. O neto perante a aparente acalmia, entra novamente na sala e junta-se a Josefina procurando indagar-se do estado do Avô)
- Pedrinho o que disseste ao Avô que o irritou tanto? Ele parece estar mesmo mal. Ó meu Deus que ele já revirou os olhos e deixou de respirar. Deus meu que ele está morto!
(Olhando para o tecto, parecendo procurar o céu infinito Josefina balbucia em tom pouco audível)
- O avião o trouxe e à terra retornou…
Josefina soluça de mansinho e afagando a cabeça de seu pai vai dizendo uma ladainha imperceptível. Pedrito levanta-se, pega na Play Station e liga a televisão. É hora do telejornal. Este abre com a seguinte notícia:
- Aumenta o número de mortes em Portugal derivado à Alzheimer. Cada vez mais, os idosos …
(apagam-se lentamente as luzes do palco e o som da TV vai diminuindo, como se acompanhasse o decréscimo da luminosidade. Do quarto da Patroa, ouvem-se sons flatulentos entre um ressonar intermitente )

Cai o pano

FIM

6 comentários:

Anónimo disse...

Já te havia dito uma vez e agora repito.
É talvez (entre tantas), a melhor obra que escreveste!
Repito
EXCELENTE !!

Anónimo disse...

Andas-te por lá a mamar à custa do teu avozinho comuna de merda!

Anónimo disse...

Já chegaram aqui os merdosos da Sanzala!
Metem nojo analfabetos de merda!

Anónimo disse...

Aquem temos em duas penadas, uma situação fictícia que relata muitas realidades da época.
Krukudilo foi um mestre neste neste conto.
Parabéns.

Anónimo disse...

Da sanzala porquê Sr anónimo?
Sou sanzaleiro e sempre respeitei as opiniões dos outros.
Talvez sejam os fandangueiros.
É usual este comportamento deles.

Anónimo disse...

Um pouco de exagero no conto.
Certamente propositado para realçar uma época.
Mas que é um texto excelente não há dúvida.
Um reparo a um Sr Anónimo:
Que têm os comunas a ver com isto?
Sabe o que são Direitos Humanos?
Sabe alguma coisa sobre a Escravatura Portuguesa?